A sensibilidade do poeta nos faz entrar em contato com a perspectiva do infantil que habita em nós.
“…Cresci brincando no chão entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Eu o menino e o sol. O menino e o rio. O menino e as árvores.”
(*) Trecho do livro "Memórias Inventadas – A Infância" (2004) de Manoel de Barros da editora Planeta.
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